sábado, 26 de setembro de 2015

EXCLUSIVAPinheiro revela mágoa por campanha de 2008

Senador Walter Pinheiro
O senador Walter Pinheiro está num ótimo momento para falar mal do governo Dilma Rousseff e do PT. Exatamente porque está e não está no governo e no PT. São conhecidas, tanto na Bahia quanto em Brasília, suas conversas com partidos adversários do petismo sobre a perspectiva de deixar a legenda que ajudou a fundar no Estado e na qual se lançou na política, embora, como é do seu feitio, ele continue negando o movimento.
Mas a entrevista que ele dá hoje em A Tarde sobre o momento político do governo e do PT, depois da atabalhoada negociação da presidente Dilma Rousseff com o PMDB, é uma das mais lúcidas que já concedeu. Em suma, Pinheiro afirma que a reforma administrativa pretendida pela presidente foi “para o saco”, em suas próprias palavras. O
senador confirma a completa falta de interlocução de Dilma com a base e critica a proposta de recriar a CPMF.
“O maior erro do governo sabe qual é? Tem 25 dos 39 ministros que perderam eleições em seus estados e não têm nenhuma inserção no Congresso. A reforma que está sendo feita agora é por isso. Ela está querendo colocar deputados para ver se agrada às bancadas e o ministro tem comando nas suas bancadas, porque os atuais não têm
nenhum”, atesta o senador baiano em conversa com o jornalista Biaggio Talento.
Ao enfatizar que não pretende disputar as eleições municipais do próximo ano, como já lhe solicitou o governador Rui Costa e o próprio PT, Pinheiro se queixa, pela primeira vez, da sucessão municipal de 2008, a qual disputou e perdeu para o então prefeito João Henrique, logo depois que o PT rompeu com a gestão municipal, numa jogada que o ex-gestor soube classificar na campanha, em seu favor, como oportunista.
“Se houvesse o mesmo empenho de agora na eleição de 2008 certamente eu teria sido eleito prefeito de Salvador”, vai ao passado Pinheiro. E quem estava no comando do governo estadual e do PT naquele momento? Quem era o principal fiador da candidatura de Pinheiro? O então governador Jaques Wagner. Foi Robinson Almeida, ex-secretário de Comunicação de Wagner, que coordenou a campanha do PT em Salvador em 2008.
E garantia, antecipadamente, a todo mundo, que o petista seria eleito, demonstrando um frágil feeling político que a realidade só confirmaria. Naquela eleição, o PT entrou de última hora na campanha. Então, Pinheiro era extremamente próximo dos irmãos Lúcio e Geddel Vieira Lima, que controlam, como controlavam, o PMDB, partido em que João Henrique se encontrava. Segundo os dois, o petista desprezava uma eventual campanha do PT em Salvador.
Revelou uma fonte ligada a Lúcio, na época, que Pinheiro recebeu na casa de praia da família dos Vieira Lima, em Interlagos, a notícia de que o PT teria candidato. Estava sentado sobre um amplo sofá de frente para o mar enquanto Geddel, na cozinha, fazia as vezes de chef para o convidado petista ilustre, quando o grupo recebeu um telefonema informando que, em reunião, o PT decidira enfrentar o prefeito João Henrique na eleição municipal.
Pinheiro, então, virou-se para eles e, de forma desdenhosa, declarou: – Então, que eles (o governo e o PT) procurem um candidato! No dia seguinte, entretanto, os jornais já anunciavam que o petista ia disputar a sucessão municipal contra o PMDB. Não precisa enfatizar que a relação entre Pinheiro e os Vieira Lima foi, a partir daquele momento, também para o saco.
Durante muito tempo, atribuiu-se a Geddel – o que nunca foi confirmado – a sugestão para que, num debate televisivo, João Henrique chamasse o petista, com todas as letras, de “cara de pau”. Não precisa dizer que foi um dos melhores momentos de João Henrique e o pior de Pinheiro no confronto. Curioso que, tempos depois da campanha, tenha surgido também uma explicação para que Wagner tivesse apoiado a escolha de Pinheiro à Prefeitura.
Então, se dizia que desagradava imensamente ao governador a estreita relação que o petista mantinha com os Vieira Lima, com os quais Wagner viria a romper depois, ainda no rescaldo da derrota que o PT sofrera para o PMDB em Salvador. Por esta versão, aquela campanha foi a oportunidade que Wagner tivera para intrigar Pinheiro com Lúcio e Geddel, que desde então passaram a criticar o petista sem reservas.

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