Destacando os crimes de repercussão nacional, com alcance até internacional, que aconteceram no ano passado no município quando, em agosto um casal de lésbicas foi assassinado ao voltarem do trabalho para casa, e dois meses antes, quando irmãos gêmeos andavam abraçados depois de uma festa, e foram espancados até a morte, por terem sido confundidos com homossexuais, Paulo Costa, vice-presidente do Grupo Gay de Camaçari (GGC), questionou: “Se os políticos trabalhassem atuando de forma a viabilizarem a vida em sociedade e aprovassem a Lei da Homofobia, será que o índice de violência contra os gays já não seria menor?”.
“Os políticos precisam tomar vergonha na cara” desabafou Paulo Costa, durante entrevista em referência ao Dia do Orgulho Gay, comemorado neste 28 de junho. O desabafo de Paulo tem a ver com o que considera como “falta de interesse dos parlamentares do Brasil” de aprovarem o Projeto de Lei 122/2006, atualmente, arquivado no Senado Federal, que torna crime a homofobia. “É bom lembrar que vivemos em um estado laico e, portanto, os interesses não podem priorizar as religiões, mas, o povo de uma forma geral. Na câmara não existem pastores, padres e bispos, mas, políticos, eleitos para cuidar da nação”, completou.
Paulo disse ainda, que Camaçari apresenta níveis muito altos de violência contra LGBT’s e lamenta o fato de ainda não ser possível catalogar, oficialmente, o número de casos, mas, diz acreditar que Camaçari não foge à regra do Brasil, e completou: “Calcula-se que no país, a cada dia morre pelo menos um gay, simplesmente, porque é gay”.
Lembrando a tragédia que aconteceu nos Estados Unidos, no último dia 12, quando 49 pessoas foram assassinadas dentro de uma boate gay, Paulo falou do sentimento do GGC com a notícia: “Fomos tomados por um sentimento de profunda tristeza. Ao mesmo tempo em que ficamos revoltados, por se tratar de um país cuja segurança pública é muito forte e mundialmente reconhecida. Como eles poderiam deixar algo assim acontecer de forma tão fácil, sendo que o assassino já tinha sido investigado antes por conta dos seus dogmas religiosos?”.
Apesar de toda dificuldade enfrentada pelos LGBT’s, muitas delas marcadas por violência e dor, ainda é possível comemorar neste dia, pois, segundo Paulo, muitas vitórias já foram alcançadas pelo grupo, e citou: “A principal conquista foi na década de 1980, quando a Organização Mundial de Saúde tirou do ranking das doenças o “homossexualismo”, que passou a ser tratada então, como, homossexualidade. Ou seja, deixou de ser vista como patologia, e passou a ser reconhecida como uma identidade”.
Desde então, as lutas dos LGBT’s começaram a ter mais força e outras conquistas foram sendo alcançadas ao longo dos anos, como destacou Paulo citando o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o reconhecimento da Justiça brasileira para os casais, permitindo que o plano de saúde de um, possa ser usado pelo seu companheiro.
Movimentos LGBT’s que se espalham por todo país durante o ano todo, culminando com a Parada Gay que acontece em alguma das principais cidades do país, são algumas ações que visam reforçar o Orgulho Gay em cada indivíduo, ao mesmo tempo, que busca mostrar à sociedade o princípio básico da boa convivência que, segundo Paulo: “Ninguém é obrigado a gostar de gay, mas, tem a obrigação de respeitá-lo como pessoa, como ser humano”.
Paulo Costa que é camaçariense, nascido e criado na cidade, morador do bairro Piaçaveira e, atual presidente do Conselho de Saúde do Município, explicou o significado do termo “Orgulho Gay” dizendo: “Existem duas vertentes: aquela pessoal, do indivíduo enquanto ser humano, diz respeito à sua independência, seu bem estar físico e mental de se assumir, entendendo que ele não tem a repulsa, empregada em nós durante anos, que caracteriza pessoas que se relacionam com outras do mesmo sexo como pecador, promíscuo, errado”.
Sobre a segunda linha de pensamento que define o termo, Paulo explicou que se refere, especificamente, ao movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) de uma forma mais coletiva: “Datas como essa são muito importantes, pois, é um dia de afirmação, mas, também de buscar políticas públicas, conquistas de direitos, e protestar contra toda e qualquer atitude de violência contra essas pessoas”.
“Há alguns anos, tinham bairros em Camaçari que o gay não podia andar, pois, era apedrejado, chacoteado, humilhado, mas, hoje as coisas não são mais assim”, comemorou Paulo, atribuindo muitas conquistas como essa, aos trabalhos do GGC, e completou: “Camaçari é um município de vanguarda no que diz respeito às lutas pelos direitos dos LGBT’s. O GGC também está à frente de muitos movimentos que acontecem em outras cidades do país. Ao longo desses anos desenvolvemos diversos projetos que deram muito certo. Atualmente, temos um projeto em parceria com o Ministério da Saúde chamado “A hora é agora”, onde fazemos o teste oral rápido para verificação de HIV/AIDS, em parceria com o município também”.
E para finalizar o vice-presidente do GGC garantiu que este ano haverá a 15ª Parada Gay de Camaçari e deixou uma mensagem para os LGBT’s: “No ano passado, em virtude da crise política, não conseguimos a verba com a Prefeitura para realizarmos o evento, mas, estamos nos reunindo, planejando a nossa Parada deste ano. A previsão é que seja em setembro, mas, ainda não tem uma data específica. Quero dizer a todos os LGBT’s de Camaçari que, acima de tudo sejam felizes. Vivam a vida intensamente. Não deixem para sair do armário amanhã, mas, faça isso hoje. Estamos nesse mundo para sermos felizes”, finalizou.